As ruas estão cheias de cegos. Entram
e saem de lojas. Abastecem carros. Vestem as melhores roupas. Discutem entre
eles a melhor maneira de tirar vantagem de tudo.
O problema é que tal como são as coisas, as
atitudes deles vão ficando cada vez pior. Agressivos. Estressados. Polêmicos. Cansados.
Querem ser notados a qualquer preço.
O mais perigoso é que estão se tornando
selvagens novamente. Como a experiência é a mestra da vida, até os animais,
aprenderam a desconfiar dos afagos, agora caçam em grupo e em grupo se defendem
de serem caçados, e graças a deus continuam a ter olhos, sabem melhor
esquivar-se e atacar se é preciso. O homem se tornou um desses, pronto para
atacar e se defender, mas que na maioria das vezes só se defende. Temos a
responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam. O melhor medicamento para o humano ainda
continua sendo a solidariedade. Uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que
somos.
By Cida Correia
(fragmento do Texto: Cegueiras - texto de teatro baseada na obra de José Saramago - Ensaio sobre a cegueira)
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